13 de jun. de 2011

Argumentos Teológicos

Desde a década de 1950, um crescente número de igrejas e denominações começou a abraçar uma interpretação diferente das Escrituras no que se refere à homossexualidade. Neste post quero apresentar rápidas respostas a alguns dos mais costumeiros argumentos bíblicos e teológicos ouvidos nos grupos religiosos pró-gay  quando essas Escrituras são discutidas.

Primeiro vamos examinar as sete passagens específicas na Bíblia que mencionam a homossexualidade, examinando ao mesmo tempo os argumentos pró-gay dessas passagens (citados em ítálico). Em seguida vamos examinar os argumentos teológicos que surgem da mais ampla ética sexual da Bíblia.

Gênesis 19:4-5 (Sodoma e Gomorra) e Juízes 19:22 (Gibeá)
"Mas, antes que se deitassem, os homens daquela cidade cercaram a casa, os homens de Sodoma, assim os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e chamaram Ló, e lhe disseram: 'Onde estão os homens que, à noitinha, entraram em tua casa? Traze-os fora a nós para que abusemos deles.'"

"Enquanto eles se alegravam, eis que os homens daquela cidade, filhos de belial, cercaram a casa, batendo à porta; e falaram ao velho, senhor da casa, dizendo: Traze para fora o homem que entrou em tua casa, para que abusemos dele."

"Deus puniu o povo de Sodoma e Gomorra por quebrar as regras da hospitalidade, não por ameaçar um assalto homossexual."

É verdade que a quebra da hospitalidade era uma coisa muito séria naquela cultura, mas esse argumento não se sustenta com um exame minucioso e completo. Grande parte da discussão aqui centraliza-se sobre o significado exato das exigências dos homens para trazer para fora os visitantes para que pudessem "conhecê-los" (Gn 19:5; Jz 19:22, ERC).
D.S. Bailey em seu livro A Homossexualidade e a Tradição Cristã Ocidental, argumenta que os homens de Sodoma e Gibeá pediram para "conhecer" (em hebraico yada') os homens no sentido de "conhecer socialmente". Esta palavra hebraica aparece 943 vezes no Antigo Testamento. Em apenas alguns poucos casos se refere a relação sexual, e nesse caso sempre à heterossexualidade.
Há um problema maior com esse argumento: a reação às exigências dos homens exige fortemente o apoio à conotação de violência sexual. Ló protesta: "Rogo-vos meus irmãos, que não façais mal" (Gn 19:7). O homem em Juízes 19 responde: "Não, irmão meus, não façais semelhante mal"(v.23). Estas respostas parecem inapropriadas para protestar contra quebra de hospitalidade, em oposição a um estupro; certamente essas palavras não fariam sentido se os homens quisessem apenas conhecer socialmente os visitantes. Além disso, Ló utiliza a mesma palavra yada', em sua próxima declaração: "Tenho duas filhas, virgens." Obviamente a implicação é sexual.

"Outras passagens bíblicas listam os pecados de Sodoma, mas não mencionam a homossexualidade."


Alguns versículos mencionam pecados tais como a soberba, desprezo pelos pobres, e apoio aos malfeitores (Jr 23:14; Ez 16:49-50), mas outras passagens ligam Sodoma com a imoralidade sexual, perversão e "procedimento libertino daqueles insubordinados" (2 Pe 2:7; Jd 7). Deus julgou a cidade por uma ampla variedade de pecados, inclusive a homossexualidade.

"Deus estava julgando o estupro pretendido, não o comportamento homossexual amoroso."


Deus enviou os visitantes divinos para confirmar a perversidade da cidade. Muito antes deste incidente, a Bíblia diz que "os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o Senhor" (Gn 13:13) e que "o clamor de Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado e o seu pecado se tem agravado muito" de maneira que Deus determinou "investigar" (Gn 18:20-21). Portanto, este incidente foi apenas uma confirmação final das atividades homossexuais já ocorrentes. Certamente, nem todos os comportamentos homossexuais anteriores na cidade foram caracterizados pelo estupro.

Contudo, os teólogos pró-gay estão certos quando dizem que esta passagem não fornece um argumento forte para a proibição de todos os atos homossexuais. Para maiores esclarecimentos devemos nos voltar para outras passagens bíblicas, veremos abaixo.

Levítico 18:22 e 20:13 (Código da Santidade)
"Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação."
"Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles."

"Os cristãos não estão mais sob a lei do Antigo Testamento."

Jesus Cristo disse que veio cumprir a lei - não aboli-la. "Aquele, pois, que violar um desses mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus" (Mt 5:19).

Essa seção de Levítico inclui outras proibições morais contra o incesto, adultério, a bestialidade, a necrofilia e outras práticas sexuais ilícitas.

"Os cristãos transgridem outras leis do Antigo Testamento o tempo todo, como comer carne de porco. Seguir algumas leis e transgredir outras é ser grosseiramente inconsistente."


Inúmeros teólogos já destacaram a diferença entre as categorias mais importantes da lei do Antigo Testamento. Primeiro, temos as leis civis e cerimoniais, que se aplicavam apenas à nação de Israel. Foram especificamente revogadas no Novo Testamento (Mc 7:19; Ef 2:15; Hb 7:18; 8:13; 10:8-10). Segundo, haviam mandamentos que constituíam a lei moral, que não era limitada a determinado tempo e lugar. Muitas dessas leis - inclusive aquela que se aplica ao comportamento homossexual - foram repetidas no Novo Testamento (Mt 5:27-30; Mc 7:21-23; 1 Co 5:1; 6:9-10, 18).

As leis civis referiam-se a questões tais como a vida diária: tomar emprestada alguma cabeça de gado (Ex 22:10-14), princípios de restituíção de propriedade perdida (Ex 22:7-9), e dar testemunho no tribunal (Ex 23:1-3). As leis cerimoniais definiam atos ou eventos que tornavam a pessoa impura para propósitos cerimoniais, como mexer num morto, ter hemorragia ou emissão do corpo, ou comer alimento impuro.

Depois havia as lais morais. As ofensas as leis morais não estavam relacionadas ao comportamento civil ou cerimonial. Elas não tornavam ninguem impuro nem exigiam o pagamento de uma multa. Antes, essas atitudes, são erradas em qualquer tempo ou lugar. sugerir que essas ações, que exigiam pena de morte, não tem maior significado do que comer carne de porco, que apenas deixa a pessoa cerimonialmente impura, traz uma séria desinformação e desconhecimento das verdades bíblicas.

"Esses versículos proíbem práticas homossexuais idólatras, não o comportamento homossexual que não tem conotação religiosa."


Semelhantemente, este argumento diz que a presença de homens prostitutos na terra era condenada; sua remoção era aceita como sinal de reforma espiritual (1 Rs 14:24; 22:46). Assim a proibição divina contra práticas sexuais com o mesmo sexo, eles dizem, falam desse julgamento contra a idolatria, não contra o amor físico entre dois homossexuais comprometidos. Mas o contexto dessas leis contra o comportamento homossexual inclui a condenação da relação sexual com as relações consanguíneas e o adultério. Esses relacionamentos poderiam ser em tudo tão ternos e afetivos quanto os laços de amor entre dois homens e duas mulheres. Mas são estritamente proíbidos - não importa qual seja o contexto. Esses versículos falam contra certas práticas sexuais - inclusive a homossexualidade - em todas as circunstâncias. O banimento é absoluto.

Romanos 1:24-27
"Por isso Deus entegou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seus próprios corações, para desonrarem os seus corpos entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentiram, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém."
"Por causa disso os entregou Deus a paixões infames; porque até suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro."

"As declarações do apóstolo Paulo são 'cultualmente comprometidas'. Elas foram dirigidas aos judeus do primeiro século; não se aplicam a nós atualmente."

Sob tal raciocínio, podemos jogar fora toda a Bíblia. Nada nela foi escrito para pessoas do século 20/21. Esse argumento implica em que os padrões de Deus mudam de tempo para tempo. Mas aqui está o que os escritores bíblicos disseram: "A Palavra do nosso Deus permanece eternamente" (Is 40:8) e "As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre" (Sl 119:160).

"Paulo apenas está condenando homens e mulheres que abandonaram o comportamento sexual que lhes é natural, isto é, os heterossexuais que têm relações homossexuais. Ele não está condenando aqueles que são naturalmente homossexuais."

Este debate centraliza-se no significado da palavra "natural" de Paulo. Paulo utiliza os termos para physin (contra, ao lado de, ou contrário à natureza) e kata physin (de acordo com a natureza). Essas palavras são utilizadas para expressar julgamento ético da homossexualidade. Outros mestres bíblicos concordam. A frase "contrário a natureza", diz o Dr. Richard Lovelace, professor de História da Igreja em "Gordon-Conwell Theological Seminary", "não significa que seja contra a 'orientação natural' ou impulsos íntimos de um indivíduo, pois (Paulo) diz distintamente que os desejos e atos daqueles mencionados nos versiculos 26 e 27 são homossexuais e em harmônia um com o outro. 'Contrário à natureza' significa simplesmente contra a intenção de Deus para o comportamento sexual humano que é explicitamente visível na natureza, na função complementar dos orgãos sexuais e dos temperamentos do macho e da fêmea.

"Paulo não entendia as complexidades da homossexualidade como entendemos hoje. Ele nunca condenou os relacionamentos homossexuais permanentes, amorosos, apenas a concupiscência e promiscuidade homossexual."

Paulo vivia numa sociedade complexa , semelhante a nossa em muitos aspectos. Os autores do Novo Testamento não poderiam ser ignorantes de uma coisa tão evidente como a homossexualidade no mundo greco-romano. Embora a homossexualidade permeasse a sociedade grega, "era considerada anormal, e nunca foi legal."
Paulo poderia facilmente traçar uma diferença entre as diversas formas de homossexualidade se fosse apropriado, mas ele condenou todo o comportamento homossexual, sem exceções.

Primeia aos Coríntios 6:9-10 e 1 Timóteo 1:9-11
"Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus."
"Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros e sodomitas,raptores de homens, mentirosos, perjuros, e tudo quanto se opõe à sã doutrina, segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado."

"As palavras originais nesses versículos referem-se a outras formas de imoralidade, tais como prostituição masculina, não relacionamentos gays amorosos e permanentes."

A palavra grega traduzida para "sodomitas" em 1 Coríntios 6:9 e em 1Timóteo 1:10 é arsenokoites. O dicionário grego-inglês de Thayler (1885) traduz esta palavra para "alguém que se deita com um homem como se fosse mulher, um sodomita". O léxico de Bauer, Arndt e Gringrich (1957) traduz a palavra por "um homem homossexual, pederasta, sodomita", o mesmo significado que ocorre nas antigas obras gregas, tais como Anthologia Palatina e o Catalogus Codicum Astrologorum Graecorum. A palavra é derivada de Arsen, "um macho" e koite, "uma cama". Com o sufixo tes indicando a pessoa que realiza a ação, a etimologia da palavra é "um macho de cama".
"Está claro, então," diz o Dr. Harold Greenlee, "que um arsenokoites no Novo Testamento é um homem que vai para cama com um macho com propósitos sexuais. Este tem sido o seu significado aceito desde o tempo da antiga literatura grega." Na passagem, Paulo está condenando de maneira ampla todos os atos homossexuais, não apenas a prostituição. "Se Paulo estava condenando apenas um tipo de atividade sexual aqui, e por implicação permitindo outros, certamente teria sido mais explícito," concorda Ronald Springett.

 Argumentos Teológicos
Ao lado de versículos específicos sobre homossexualidade, a perspectiva bíblica sobre este tipo de comportamento deve ser olhada em um contexto mais amplo de ensinamentos bíblicos sobre sexualidade como um todo.

"Jesus não falou contra a homossexualidade."

Há diversos pontos a considerar em resposta a este argumento comum. Primeiro, a Bíblia não menciona declarações de Jesus sobre outras formas de comportamento sexual, tais como incesto, estupro, abuso de crianças e bestialidade. Poucos poderiam argumentar que portanto esses comportamentos são permissíveis. A Bíblia diz que muitas coisas que Jesus disse não foram registradas (Jo 21:25). Portanto, ele poderia ter mencionado a homossexualidade, embora provavelmente não tenho tido ocasião para tanto. Os judeus do seu tempo se opunham fortemente a tais práticas.

Jesus apoiava as leis do Antigo Testamento sobre comportamento sexual (Mt 5:27-30; Mc 7:21-23), que condenava fortemente atos homossexuais. E Jesus apenas falou de sexualidade no contexto de um compromisso heterossexual para a vida toda, quando mencionou a criação de macho e fêmea (Mt 19:4-9).
Esta referência da narrativa da criação é muito significativa. A perspectiva bíblica sobre a expressão sexual é consistente através das Escrituras. Richard F. Lovelace diz que os teólogos pró-gay com frequência rejeitam versículos sobre a homossexualidade mas "geralmente deixam de lidar teologicamente com o assunto em termos do ensinamento geral da Bíblia sobre sexualidade humana."

"O ponto de partida," continua Lovelace, "para entender ambas, a sexualidade humana de modo geral e a homossexualidade deveria ser a narrativa da criação do homem e da mulher em Gênesis 1 e 2."
Lovelace observa que a narrativa da criação enfatiza como a humanidade foi criada à imagem de Deus, macho e fêmea. Para remediar a "solidão" de Adão, o Senhor não criou outro homem, mas uma mulher. Isto sugere  que o macho e a fêmea são complementares, não apenas sexualmente, mas também de outras maneiras, tais como emocional e socialmente.

Deus abençoou o homem e a mulher, e lhes deu este primeiro mandamento: "Sede fecundos, multiplicai-vos" (Gn 1:28). A primeira mulher foi fisicamente esculpida da carne do homem (2:21,22). Quando eles se uniram fisicamente, tornaram-se "uma só carne" novamente (2:24). O ato heterossexual no casamento é mais do que uma união, é um tipo de reunião. Não é uma reunião de pessoas estranhas que não se pertencem e não podem apropriadamente se tornar uma só carne. Pelo contrário, é a união de duas pessoas que originalmente foram uma, depois foram separadas uma da outra, e agora no encontro sexual do casamento se uniram novamente.

Cada união sexual de marido e esposa é um lembrete poderoso da ordem criada por Deus. Portanto não é um acidente, que toda forma de expressão sexual fora da aliança do casamento, que é o centro da família, seja explícita ou implicitamente condenada no restante das Escrituras.

Jesus mesmo mencionou Gênesis 2:24 quando ensinou que o casamento deveria ser um relacionamento permanente entre um homem e uma mulher; ele apresentou o celibato como o único estilo de vida aprovado fora do casamento heterossexual (Mt 19:4-12). Em um sermão, Jesus condenou a imoralidade sexual" (Mc 7:21). A palavra grega que Ele utilizou foi porneia, que incluí qualquer forma de comportamento sexual fora do casamento heterossexual.

"Jesus falou de uma lei mais elevada de amor, e os relacionamentos homossexuais de fidelidade a longo prazo podem ser exatamente tão cheios de amor quanto os casamentos heterossexuais."

Este argumento centraliza-se em uma discussão do que significa a palavra amor. Se definirmos o amor cristão em termos de auto doação, é verdade que alguns relacionamentos homossexuais são mais cheios de amor do que alguns casamentos heterossexuais.

Mas, apesar do destaque que Jesus deu a necessidade de uma motivação de amor, em lugar algum ele ensinou que uma motivação de amor pode justificar alguma coisa. Ele jamais deu a seus discípulos qualquer motivo para crerem que, por causa dos seus ensinamentos sobre o amor, eles poderiam ignorar as leis do Antigo Testamento que rotulava algumas coisas de ruins em si mesmas, seja qual for a motivação (veja Mt 5:17-20). Jesus disse que o seu amor se refletia pela nossa obediência aos seus mandamentos (Jo 14:15).

Substituir todos os outros padrões absolutos pelo simples mandamento de amar não é fiel aos ensinamentos do Novo Testamento, e também é totalmente impróprio como guia para a vida moral. A auto-ilusão e as influências externas borram a visão de qualquer um às vezes, especialmente no contexto da expressão de nossos desejos sexuais.

Alguns Pensamentos Finais

Se alguém tenta apoiar o comportamento homossexual com as Escrituras, examine o versículo em diversas traduções, e estude o contexto de toda a passagem. Por exemplo, alguém já disse que este versículo apóia a homossexualidade: " Não seja, pois, vituperado o vosso bem" (Rm 14:16). Mas o contexto está falando das leis dietéticas do Antigo Testamento. Paulo está discutindo alimentos puros e impuros - não práticas morais puras ou impuras.

A Bíblia nunca fala positivamente acerca da homossexualidade ou qualquer outra prática sexual fora do de um compromisso heterossexual para a vida inteira (casamento). Difícil como é de obedecer a este padrão, é a vocação de Cristo para todos os seus seguidores, inclusive aqueles com atrações e desejos pelo mesmo sexo.


 

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