4 de jun. de 2011

Esquisitices Não - Final

Degrau por degrau, Jesus desmantelou a escada da hierarquia que marcava a aproximação de Deus. Convidou pessoas defeituosas, pecadores, estrangeiros e gentios - os impuros! - para a mesa do banquete divino. Em seus contatos sociais, Jesus acabou com as categorias judias de "puros" e "impuros". O texto de Lucas 8, por exemplo, registra três incidentes em rápida sucessão que, juntos, devem ter confirmado as idéias erradas que os fariseus tinham a respeito de Jesus. Primeiro, Jesus navegou para uma região habitada por gentios, curou um louco nú e o designou como missionário em sua cidade natal. Depois, Jesus foi tocado por uma mulher com hemorragia há doze anos, um "problema feminino" que a desqualificava dos cultos e causava-lhe muita vergonha. Dali Jesus seguiu para a casa de um chefe de sinagoga cuja filha havia acabado de morrer. Já "impuro" por causa do louco gentio e da mulher hemorrágica, Jesus entrou no quarto e tocou o cadáver. Para nós essas três atitudes de Jesus não causam muito espanto, mas para os judeus daquela época era algo muito sério e quem fizesse tais atitudes era considerado impuro.

As Leis levíticas advertiam contra o contágio: contatos com doentes, gentios, cadáveres, certos tipos de animais ou até mesmo mofo e bolor podiam contaminar uma pessoa. Jesus inverteu o processo: em vez de ficar contaminado, tornou a outra pessoa sadia. O louco nú não contaminou Jesus; foi curado. A pobre mulher com fluxo de sangue não envergonhou Jesus nem o tornou impuro; ela se afastou sadia. A menina morta de doze anos de idade não contaminou Jesus; foi ressuscitada.

Vejo no método de Jesus um cumprimento, e não uma abolição das leis do Antigo Testamento. Deus tinha "santificado" a criação separando o sagrado do profano, o puro do impuro. Jesus não cancelou o princípio santificador; antes, mudou sua fonte. Nós mesmo podemos ser agentes da santidade de Deus, pois Ele habita em nós. No meio de um mundo impuro podemos passear, como Jesus, buscando meios de ser uma forma de santidade. Os doentes e os aleijados para nós não são avisos vermelhos de contaminação, mas receptores em potencial da misericórdia divina. Somos chamados para estender essa misericórdia, para ser transmissores da graça, e não para evitar o contágio. Assim como Jesus, podemos ajudar o "impuro" a se tornar limpo!

A maneira pela qual a "revolução" de Jesus me afeta centraliza-se em como devemos olhar para as pessoas "diferentes". O exemplo de Jesus me convence hoje, porque sinto uma guinada sutil na direção inversa. Conforme a sociedade se desenvolve e a imoralidade aumenta, ouço cristãos clamando que precisamos demonstrar menos misericórdia e mais moralidade, clamores que retrocedem ao estilo do Antigo Testamento. Uma frase utilizada por Pedro e Paulo tornou-se uma de minhas preferidas no Novo Testamento. Temos de administrar, "ser despenseiros" da graça de Deus, dizem os dois apóstolos. A imagem me traz a mente os antiquados vaporizadores que as mulheres usavam antes de se aperfeiçoar a tecnologia dos sprays. Apertava-se uma bomba de borracha e gotículas de perfume saíam dos buraquinhos da outra ponta. Algumas gotas bastavam para o corpo inteiro; alguns poucos apertões bastavam para mudar a atmosfera de um quarto. Creio que é assim que a graça deve operar. Ela não converte o mundo inteiro ou toda uma sociedade, mas enriquece a atmosfera. 

Sinto profunda preocupação com nossa sociedade, observando o que tem acontecido nesses últimos anos. Estou tocado, entretanto, pelo poder alternativo da misericórdia demonstrada por Jesus, que veio para os doentes e não para os sãos, para os pecadores e não para os justos. Jesus nunca aprovou o mal, mas estava pronto a perdoá-lo. De alguma forma, Ele ganhou a reputação de ser amigo dos pecadores, uma reputação que seus discípulos correm o risco de perder. Como certa vez li "Eu realmente só amo a Deus na proporção em que amo a pessoa que menos amo". Pense nisso.

No amor de Cristo

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